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Medindo o bem-estar das comunidades: Para além dos números e das agendas de doadores

16 May 2024

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Este blog foi traduzido pela Rede Comuá no Brasil.

 

Samar Awaad, an International Development Consultant

Em dezembro de 2023, na Cúpula Global #ShiftThePower em Bogotá, participei de uma sessão sobre “A mensuração é política”. Após a sessão, comecei a pensar em como a mensuração de impacto foi politizada. Durante toda a minha vida profissional, sempre tive problemas com sistemas de monitoramento, avaliação, accountability e aprendizado (MEAL, na sigla em inglês), como eles medem e como medimos as pessoas em números. Usar números para se encaixar em agendas de doadores, expectativas, quadros de registros e todos os tipos de outras mensurações insensíveis.

Ao longo de minha carreira, trabalhei com várias organizações, incluindo o Banco Mundial, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e várias organizações comunitárias. Nos primeiros anos de minha carreira, enquanto trabalhava na avaliação de impacto de projetos com o Banco Mundial, sempre senti que havia algo estranho na forma como medíamos o sucesso, mas eu não tinha a linguagem para isso naquela época. Eu também estava apenas no início de minha carreira. Foi durante meu tempo com organizações comunitárias que comecei a me perguntar: como posso medir como as pessoas se sentem? Como elas prosperaram? Como elas se tornaram uma comunidade boa e produtiva? Como a “tecelagem de relacionamentos” entre elas se tornou tão forte? Como podemos medir tudo isso?

As coisas se tornam políticas quando tentamos medir o sucesso de acordo com um sistema MEAL usado por organizações internacionais como USAID, DFID, GIZ, Banco Mundial e muitas outras, se elas não estiverem interessadas na qualidade dos relacionamentos nas comunidades que financiam. Percebendo agora que a mensuração de impacto é de fato política, me pego pensando em como podemos medir o bem-estar da comunidade. Acho que se pudermos desenvolver indicadores a partir de uma abordagem de bem-estar comunitário, não há razão para não podermos “avaliá-lo”. Se quisermos que as pessoas sejam resilientes, como podemos criar uma visão de avaliação baseada no bem-estar? Como podemos medir a resiliência? Como podemos medir a felicidade? Por exemplo, como podemos medir alguns desses indicadores realmente extraordinários? Suponho que isso precise de um índice – uma coleção de vários indicadores que coletivamente nos dão uma impressão de bem-estar, ao mesmo tempo em que são culturalmente sensíveis.

Como podemos medir e dizer se uma comunidade está em dificuldades ou se está prosperando? Para medir e distinguir uma comunidade em dificuldades de uma que está prosperando, precisaremos acrescentar outros indicadores comunitários básicos e muitas vezes negligenciados, como esportes, cultura e artes. Além das métricas tradicionais, como estabilidade econômica, taxas de emprego, níveis de educação, acesso aos serviços de saúde e taxas de criminalidade, a incorporação de esportes, cultura e artes como indicadores pode proporcionar uma visão mais holística da qualidade de vida de uma comunidade e tentar captar a natureza multifacetada do bem-estar da comunidade.

Os esportes servem como um indicador vital da saúde e da coesão social da comunidade. Os equipamentos e os programas esportivos também indicam um investimento em espaços públicos de reunião e um reflexo do desenvolvimento da comunidade. Além disso, medir a vibração cultural pode envolver a avaliação da diversidade e da riqueza das expressões culturais, a preservação e a celebração do patrimônio e o acesso a atividades culturais por membros da comunidade. Os indicadores aqui podem incluir o número e a variedade de eventos culturais, festivais comunitários e espaços de reunião conhecidos. O envolvimento cultural está ligado à identidade, ao orgulho e à coesão da comunidade, que também são essenciais para uma comunidade próspera.

A presença de um cenário artístico ativo em várias expressões pode ser um indicador poderoso da vitalidade, expressão, criatividade e inovação de uma comunidade. As métricas para avaliar as artes podem incluir o apoio a artistas locais e a participação da comunidade em atividades artísticas.

Ao acrescentar esportes, cultura e artes a outros indicadores básicos, podemos obter uma compreensão mais abrangente do bem-estar de uma comunidade. Esses indicadores destacam a importância do capital social e cultural, além das medidas econômicas, na avaliação da saúde da comunidade. É provável que uma comunidade próspera apresente um bom desempenho nessas áreas, indicando não apenas o bem-estar material, mas também um tecido social vibrante, engajado e coeso. Por outro lado, uma comunidade em dificuldades pode apresentar lacunas ou deficiências nessas áreas, apontando para possíveis áreas de intervenção e apoio. Essa abordagem holística de mensuração de impacto incentiva políticas e iniciativas que apoiam todas as dimensões da vida comunitária, levando a um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.

Berlinski escreveu um livro sobre bem-estar como uma metodologia de mensuração. Como medir indicadores individuais, mas também indicadores comunitários, e como desenvolver ferramentas de medição de correlação para ambos, o que acaba fornecendo uma imagem concreta e holística dos indivíduos e da comunidade estudados. Todos esses níveis combinados nos dão uma avaliação coletiva de onde as pessoas estão na vida real.

 

Por: Samar Awaad, consultora de desenvolvimento internaciona

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