Formas alternativas de organizar #ShiftThePower: o que podemos aprender com experiências em rede da América Latina
08 Oct 2023
Convite para participar de mapeamento e de uma série de diálogos rumo ao Global Summit em Bogotá
As crises recentes trouxeram à tona grandes desafios para nós latinoamericanos. Por um lado, há incerteza política e instabilidade em muitos países que enfrentam uma onda conservadora. Por outro, este cenário é marcado por questões socioambientais complexas, como os desastres naturais, as crises sanitárias e as violações de direitos humanos contra migrantes, mulheres, povos indígenas e outras populações tradicionais. As desigualdades sociais também aumentaram. A porcentagem da população, que vive na extrema pobreza na América Latina e na região do Caribe, entre 2014 a 2021, passou de 7,8% para 12,9% durante o período.
Eduardo Galeano em seu livro ‘Las Venas Abiertas de America Latina’ nos propõe perguntas para refletir sobre nosso próprio destino: “A América Latina é uma região do mundo condenada à humilhação e à pobreza? Condenado por quem? O infortúnio não é um produto da história, feito pelos homens e que, portanto, pode ser desfeito pelos homens?”
A nossa história de colonização reflete as profundas desigualdades sociais que enfrentamos. Neste sentido, há concordância com Galeano e com muitos outros autores que discutem esse tema, de que muito tem de ser feito e desfeito para que possamos alcançar uma sociedade justa construída em torno de valores fundamentais de igualdade, democracia e sustentabilidade. Em nosso campo, a Rede Comuá lançou recentemente luz a este debate no Brasil: “O processo de descolonização procura desvincular-se das características coloniais do passado. Isto implica uma transformação radical, baseada em novas alianças entre territórios e atores, que não deixa espaço para um retorno ao estado anterior de conformidade com o poder colonial dominante e simbólico.”
O marco democrático, que implica a renúncia de um discurso universal totalizante, inaugura a experiência de uma sociedade que não pode ser apreendida ou controlada, abarcando a multiplicidade e a diversidade de vozes que coexistem nas sociedades plurais contemporâneas. Por meio da política, compreendida como uma forma de luta coletiva, que localiza e é capaz de organizar, temporariamente a coexistência humana, abre-se a possibilidade de nosso futuro ser constantemente recriado e renegociado.
É justamente nesse sentido de luta política, que a resistência às desigualdades sociais na América Latina se traduzem em múltiplas práticas sociais, cujo protagonismo da sociedade civil se destaca pela sua versatilidade, inovação e resiliência, abarcando caminhos alternativos e plurais. O associativismo, as redes de cooperação e a articulação de diferentes pessoas e organizações são capazes de desenvolver práticas contra-hegemônicas que promovem formas alternativas de organizar nossas relações sociais, de poder, econômicas e ambientais.
Essas reflexões se conectam com uma das temáticas do evento #Shift The Power Global Summit ‘possibilidade frente à crise’: “face às crises globais crescentes (…), reconhecemos que novas formas de decidir e de fazer estão a emergir em todo o mundo (…) sob a forma de novas práticas, novos arranjos institucionais, novos modelos de organização e novos tipos de poder em rede, todos centrados na equidade, na dignidade, na confiança e no poder inerente às comunidades”.
Nesta edição do Summit, que será realizado na América Latina, em Bogotá, na Colômbia, Mariane Maier e Aghata Gonsalves, da Carduma Social, conduzirão junto ao Global Fund for Community Foundations e outros atores, um mapeamento e uma série de diálogos sobre experiências em rede da América Latina**. Essas atividades fazem parte dos eventos “Road to Bogotá” (À caminho de Bogotá) que antecedem o Summit.
Convidamos todos e todas a indicar experiências, se reunir e aprender uns com os outros para construirmos juntos e juntas uma narrativa coletiva sobre como nos articulamos e criamos formas alternativas de nos organizarmos na América Latina.
O que está por vir?
- Mapeamento de experiências em rede da América Latina e do Caribe
- Diálogos com as ações coletivas mapeadas
- Webinar Coletivo para troca entre pares
- Compartilhamento dos resultados e aprofundamento das reflexões coletivas no Summit
Para começar, mapeamento de experiências
Você conhece alguma experiência em rede na América Latina que tenha uma história de articulação entre diferentes pessoas, grupos e/ou organizações em torno de demandas, valores ou objetivos comuns? Convidamos você a colocar experiências em nosso mapa coletivo preenchendo este formulário ou entrando em contato conosco pelo email: marianemaier@gmail.com
*Para efeito deste trabalho, compreendemos redes como resultado de um processo de articulação entre diferentes pessoas, grupos e/ou organizações em torno de demandas, valores ou objetivos comuns. Leva em consideração também articulações coletivas informais, que se organizaram para responder a crises e/ou desafios comuns, não se limitando a redes pré-estabelecidas e/ou formalizadas.
**Muito conhecimento foi construído de forma colaborativa por atores relevantes da nossa área e pelo movimento #ShiftThePower, que também considera as redes como a base para a mudança social sistêmica – Knight, Barry. Systems to #ShiftThePower, 2019.
Sobre as facilitadoras desta atividade
Mariane e Aghata são profissionais brasileiras que atuam no campo da sociedade civil e da filantropia comunitária. Elas fazem parte do movimento #Shift The Power e são movidas pela crença de que as ações coletivas e as redes são a base para a mudança social sistemática.
Enquanto líderes de uma Organização de Filantropia Comunitária no Brasil, elas se envolveram com diferentes iniciativas e responderam a desafios complexos por meio de redes locais. Suas experiências contribuíram para a compreensão de que as ações coletivas se organizam a partir dos desafios que enfrentam em seus territórios e buscam mudar as relações de poder. Além do trabalho de base, elas têm formação acadêmica que as inspirou a alinhar teoria e prática e a pesquisar formas alternativas de organizar. Atualmente, estão envolvidas em trabalhos de consultoria em torno do desenho de iniciativas de fortalecimento comunitário e de redes de organizações da sociedade civil, além de pesquisas participativas e facilitação de grupos e aprendizagem vivencial de adultos.
Referências (Notes)
1 CEPAL’s LAC Regional Socio-Demographic Profile (2023). Available in: https://statistics.cepal.org/portal/cepalstat/regional-profile.html?theme=1&lang=en
2 Galeano, Eduardo (2015). Las venas abiertas de América Latina. Buenos Aires.
3 Segato, R. L. (2014). Aníbal Quijano y la perspectiva de la colonialidad del poder. Des/colonialidad y bien vivir: un nuevo debate en America Latina, 35-71.
4 Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. A Colonialidade do Saber: etnocentrismo e ciências sociais–Perspectivas Latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso, 107-126.
5 Andrade, Allyne & Hopstein, Graciela (2022). Is decolonising philanthropy making headway? Alliance Magazine. Available in: https://www.alliancemagazine.org/feature/is-decolonising-philanthropy-making-headway/
6 Mouffe, C. (2011). On the political. Routledge.
7 Laclau, Ernesto & Mouffe, Chantal. (2014). Hegemony and socialist strategy: Towards a radical democratic politics (Vol. 8). Verso Books.
8 Santos, Boaventura de Sousa. (2002). Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista crítica de ciências sociais, (63), 237-280.
9 Knight, Barry. (2019). Systems to #ShiftThePower, GFCF.